CLÁUDIO LOPES NEGREIROS
Não são gigantes, são moinhos de vento
O que Dom Quixote diria dos gigantes da vez, heim? Cervantes, certamente, entenderia que celulares na mão de crianças e adolescentes não seriam mais que, meros, moinhos de vento mas, como vez por outra no Brasil, é preciso mudar antagonistas, o “malvado favorito” da ocasião são os smartsphones, celulares, tablets e demais traquitanas tecnológicas. Para demonstrar meu posicionamento sobre a desnecessidade de mais uma proibição, façamos um exercício de análise de retrospectos tecnológicos ao longo da história, vejamos… quando Gutemberg, no século XIV inventou a imprensa, os detentores do monopólio da informação, como Clero e Nobreza, temeram pela repercussão social do invento, dali em diante, o conhecimento produto da informação seria distribuído aos – raros – alfabetizados que dispusessem dos recursos para comprar material impresso.
A Igreja medieval e as Coroas – Estado - demonizaram escritos de toda ordem, nem toda família queria certos escritos da perdição em seus lares, para que Enzos e Valentinas da época não perdessem os valores morais tradicionais. Em 1876 foi a vez de Grahambel ser usado pelo maligno, quando inventou o telefone. Deusulive...daí pra frente não teve quem pusesse freio em fofoca, o invento tecnológico mudou, sobremaneira, o jeito e a velocidade com que a sociedade se comunicaria, resistência houve aos montes.
No final do século XIX, outro elemento de depravação social surge e toma os holofotes, foi a vez do rádio, este, entraria nos lares de forma fortuita e também influenciaria na maneira de ser e lidar da sociedade, havia, inclusive, órgão censores para evitar que emissões de imoralidade sonora chegasse aos pudicos ouvidos da juventude. Da televisão, desnecessário falar... quem com mais de 40 – e com acesso ao aparelho, claro - não lembra dos pais os proibindo, de assistir determinado programa televisivo, ou esconjurando que fizesse as refeições na frente da televisão, ou mesmo asseverando que a TV deixaria cego quem muito ficasse de frente a ela? O estado, em dado período de nossa história, também regulava o que poderia ser transmitido na TV.
Depois da internet, aí foi a tradicional manutenção da moral e bons costumes ladeira a baixo. Qualquer criança, ainda nos cueiros, já sabe o imortalizado gesto de passar pra cima. Smartphones são tão presentes nos lares quanto qualquer outro material de primeira necessidade e são eles, segundo aqueles que não conseguem estabelecer o mínimo de disciplina e autoridade aos filhos, os culpados por toda e qualquer mazela comportamental de suas crias. Mas por sorte temos o Estado atento e atuante no moderar de nossas vontades, e no dia 13 de janeiro de 2025, tais aparelhos nocivos, estão proibidos nas escolas da educação básica no Brasil.
Agora os pais e responsáveis(?) não devem mais temer pela, maléfica, ação de tais aparelhos no cotidiano escolar de seus filhos, pois doravante, a Lei proíbe e nossos professores e gestores escolares estarão alertas e preparados para agir caso algum danadinho tente violar a lei pátria assistindo vídeos do Felipe Neto. Me ocorre agora, como deverão proceder nossos professores aos se depararem com tal prática criminosa, certamente chamarão a Polícia, já que esta tem pouco o que fazer em Poto Velho por estes dias. Inclusive, penso que se essa lei tivesse sido publicada semana passada, a escola Tancredo Neves, localizada na zona Sul da capital rondoniense, não teria sido cravejada de tiros.
É certo, caro leitor, que pra todo problema complexo há sempre uma solução simples, rápida e equivocada, a proibição por meio de Leis, não substitui a maneira que os pais educam seus filhos, não adianta criar muletas para a inaptidão de adultos em estabelecer disciplina e autoridade, o uso do celular não é provocador de distúrbios comportamentais, seu uso inadequado é consequência de uma educação familiar deficiente. O personagem de Miguel de Cervantes, nadaria de braçada se tivesse seus ímpetos de alucinação por esses dias, Sancho Pança cederia aos seus delírios na primeira argumentação sobre o nefasto celular.
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