MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS SE POSICIONA FRENTE AO ACORDO DE REPACTUAÇÃO DO CRIME EM MARIANA (MG)
Em 2023, atingidos participaram de Jornada de Lutas em Brasília, para pedir justiça para Mariana e Brumadinho. Foto: Marcelo Aguiar / MAB
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem a público manifestar-se sobre o acordo de repactuação relativo ao crime ocorrido em Mariana, em 5 de novembro de 2015, que será assinado nesta sexta-feira (25), no Palácio do Planalto.
O rompimento da barragem da Samarco (Vale e BHP Billiton) em Mariana foi o maior crime socioambiental da história do país. A lama contaminou 684 km do Rio Doce e do litoral capixaba e baiano, atingindo mais de 2,5 milhões de pessoas em três estados da federação. Dezenove pessoas morreram e uma mulher sofreu um aborto.
O crime em Mariana e todas as violações de direitos decorrentes dele são resultado direto do processo de privatização, que explora todo o povo brasileiro, se apropria de nossas riquezas e beneficia exclusivamente o sistema financeiro, gerando lucro para satisfazer a ganância do grande capital.
Reconhecemos a importância do acordo e seus avanços para os atingidos, mas também há insuficiências. A luta popular protagonizada pelos atingidos organizados, bem como de seus aliados e parceiros, possibilitou que a proposta atual seja superior à que havia sido apresentada no final de 2022, no governo anterior, e que teria sido extremamente prejudicial ao povo atingido. O atual acordo representa o dobro do valor disponibilizado para a reparação na proposta anterior, superando-a em R$ 132 bilhões.
Consideramos que, após nove anos de injustiças, sofrimento e violações de direitos, o acordo proposto apresenta alguns avanços, os quais destacamos:
1 – O protagonismo do Estado (poder público) na condução do processo de reparação, afastando as empresas que cometeram o crime da relação direta com as vítimas.
2 – A criação de fundos específicos destinados aos povos indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais, às mulheres, aos pescadores e agricultores familiares.
3 – As ações em saúde (fundo perpétuo), saneamento, retomada econômica, prevenção de enchentes, infraestrutura e na questão ambiental, bem como a continuidade da assessoria técnica independente.
Os pontos acima sempre estiveram presentes nas pautas de reivindicações das lutas, mobilizações, reuniões, audiências e atos públicos organizadas pelo Movimento dos Atingidos por Barragens e seus aliados locais, nacionais e internacionais.
Quanto às insuficiências, destacamos:
1 – A ausência de participação livre e informada do povo atingido durante a construção do acordo. O MAB reivindicou insistentemente às instituições de justiça (IJs), ao poder judiciário e aos governos assento na mesa de negociação da repactuação, o que foi negado sob alegação de sigilo pelas empresas e pelo judiciário.
2 – Além disso, as propostas de indenização individual são insuficientes diante dos danos causados. Neste sentido, a luta segue por indenizações justas, seja na justiça brasileira, junto aos governos ou nas cortes internacionais, como no caso da ação inglesa que está sendo julgada, em Londres, neste momento.
A proposta apresentada inaugura uma nova etapa da luta popular pela reparação integral dos direitos do povo atingido e do meio ambiente. A intensa mobilização popular é o caminho para concretizarmos os pontos positivos do acordo, bem como para garantirmos a plena reparação frente às suas insuficiências. Ressaltamos ainda que se trata de um crime e como tal não pode seguir impune, sendo dever das autoridades, especialmente do judiciário, condenar os responsáveis.
Reafirmamos nosso compromisso de seguir na luta contra todas as formas de exploração, dominação e injustiças, sem deixar nenhuma pessoa atingida para trás. Para isso, contamos com o apoio e solidariedade dos aliados e parceiros, e em especial de todo povo atingido da Bacia do Rio do Doce, litoral capixaba e do Brasil.
Convidamos todos a se somarem à luta dos atingidos, no dia 05 de novembro, em um grande ato na cidade de Mariana (MG), para reafirmarmos nosso compromisso de seguir a luta.
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