PEC contra a escala 6x1 ganha força após pressão nas redes sociais; políticos de Rondônia reagem para evitar desgaste
Após a proposta alcançar assinaturas suficientes, parlamentares rondonienses adotam discurso conciliador
Rondoniadinamica – Com o crescimento da pressão popular nas redes sociais, principalmente de trabalhadores que vivem o dia a dia de jornadas exaustivas, a proposta de Emenda à Constituição (PEC) que propõe o fim da escala 6x1, onde se trabalha seis dias para folgar um, ganhou fôlego na Câmara Federal. No entanto, o debate tem sido contaminado por questões ideológicas, transformando a pauta trabalhista em uma arena de disputas políticas entre parlamentares conservadores e progressistas.
A PEC, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), alcançou recentemente o número necessário de assinaturas para iniciar sua tramitação. Entretanto, somente após a repercussão do tema e a cobrança de eleitores nas redes sociais, é que parlamentares de Rondônia resolveram se manifestar publicamente. As falas vieram, em grande parte, em tom de reação, tentando evitar desgaste político, uma vez que o trabalhador brasileiro demonstrou não estar disposto a aceitar mais discursos vazios sobre condições de trabalho.
Os deputados Maurício Carvalho e Fenando Máximo, ambos do União Brasil, foram os primeiros a se posicionarem. Maurício argumentou que sua assinatura não significava um endosso total à PEC, mas sim uma abertura para o debate. "Assinei para abrir a oportunidade de debater esse tema. É necessário fazer ajustes. Os trabalhadores precisam de melhores condições, e estamos buscando uma solução que seja positiva tanto para o trabalhador quanto para quem gera empregos", declarou, tentando equilibrar sua posição para não desagradar os empregadores.
Enquanto isso, Coronel Chrisóstomo (PL), mantendo seu discurso alinhado à direita, evitou apoiar diretamente a proposta da deputada do PSOL e preferiu subscrever uma PEC alternativa. "Assinei a PEC do regime de trabalho flexível, do deputado @mauriciomarcon. A proposta prevê uma jornada flexível acordada entre o empregador e o empregado. Os dois definirão quantas horas serão trabalhadas. Por isso, defendo a liberdade, sem populismo e demagogia!", afirmou o coronel em suas redes. Em resposta, um internauta ironizou: “O caixa de supermercado negociando com o dono da Carrefour”, destacando a desconfiança em torno de negociações desiguais entre patrões e empregados.
A crítica maior recai sobre o uso ideológico da proposta. Políticos conservadores, como Chrisóstomo, tendem a rotular qualquer iniciativa vinda de parlamentares de esquerda como parte de uma agenda "progressista" que visa desestabilizar o livre mercado. Contudo, no caso da PEC que visa reformar a exaustiva jornada 6x1, o clamor popular nas redes mostrou que essa não é uma questão de esquerda ou direita, mas sim de dignidade para quem precisa trabalhar para sobreviver.
Cristiane Lopes (União Brasil), também de Rondônia, trouxe uma perspectiva mais próxima do cotidiano dos trabalhadores: “Pessoal, assinei a PEC pelo fim da escala 6x1. Como mãe e como alguém que já trabalhou como vendedora de loja e garçonete, eu sei bem o que é enfrentar uma jornada pesada, chegar em casa sem energia para dar atenção aos filhos e ainda cuidar de casa”, afirmou, destacando a necessidade de um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Da mesma forma, Fernando Máximo (União Brasil) tentou adotar um tom conciliador, prometendo ouvir tanto os trabalhadores quanto os empregadores antes de chegar a uma decisão definitiva: “Acabamos de assinar a PEC contra a escala 6x1. Agora é hora de discussão, é hora de chamar a responsabilidade para cá, para a gente ouvir todo mundo”, defendeu Máximo.
Por trás das manifestações tardias, está o receio de que uma postura contrária ao trabalhador, especialmente em um momento em que o Brasil ainda tenta se recuperar economicamente, possa custar votos nas próximas eleições. Afinal, o político que insistir em tratar uma questão trabalhista como “bolha ideológica” pode ser severamente punido pelas urnas. O trabalhador comum, que sua para manter o Brasil em pé, já demonstrou que não aceitará ser tratado como moeda de troca em disputas ideológicas.
O problema central é que, ao invés de tratar a proposta pelo que ela é — uma tentativa de melhorar as condições de trabalho —, muitos parlamentares enxergam na autoria da PEC, por uma deputada trans e progressista, um pretexto para rejeitá-la. A direita, neste sentido, prefere desviar a discussão para o campo ideológico ao invés de abraçar uma causa que deveria ser de todos os espectros políticos.
No entanto, como demonstrado pelas manifestações populares, essa é uma questão que transcende a polarização política. Para os trabalhadores que enfrentam jornadas exaustivas, a proposta de uma folga justa a cada seis dias de trabalho não é uma questão de esquerda ou direita, mas de sobrevivência. E essa voz ecoará nas urnas caso os representantes eleitos continuem a se esquivar do debate real em prol de jogos políticos.
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